terça-feira, janeiro 29, 2008

Se fosse só às vezes...

Às vezes odeio quando as pessoas não admitem que erraram.


Às vezes odeio quando as pessoas tentam impor-nos a sua opinião pessoal.


Às vezes odeio quando as pessoas mentem apesar da mentira ser óbvia e desnecessária.


Às vezes odeio quando as pessoas são orgulhosas demais para mudar a sua opinião inicial apesar de verem perfeitamente que esta era errada.


Às vezes odeio muita gente que adoro.

Às vezes odeio-me a mim.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

uma pombinha, duas pombinhas, três pombinhas a voar, uma é minha, outra é... minha!... outra sou eu que vou apanhar!

Vou-vos contar a história de um povo evoluído. Um povo cuja História data de há quase mil anos, pioneiros na descoberta de novos mundos, nas descobertas científicas, exímios nas artes e nos ofícios, árduos trabalhadores, genuinamente altruístas, sensatos, lutadores, nobres, honrosos e humildes. Um povo que acolhe outros vindos de locais que infelizmente nao tiveram a mesma sorte e dramaticamente caíram na desonra, violência e egoísmo, e os ajuda na procura de uma vida melhor.

Nascidos tão perto do berço da humanidade, decerto compreendem o valor da vida, dos valores éticos e morais que regem uma sociedade convencionalmente civilizada.

Um povo capaz de hospedar alegremente eventos do maior calibre e importância global, dos eventos desportivos às cimeiras políticas, passando por acordos de paz e tratados comunitários. Este é um povo capaz de gritar a plenos pulmões com todo o orgulho EU SOU PORTUGUÊS!

Infelizmente, mas previsivelmente, esse povo nao passa de um grupo de seres humanos. E por maiores que sejam os esforços, por mais tinta e saliva que se gaste, há sempre aqueles que não se integram neste grupo, neste povo fantásticamente acolhedor e filantropo. Está afinal, na natureza humana o narcisismo, a ganância e a cobiça.

Esta história, que não é nada mais do que um espelho da realidade leva-nos aos dias que correm, à globalização da informação, à instabilidade da economia mundial, às guerras provocadas por décadas de contendas geradas por falta, ou na maior parte dos casos, por excesso de recursos, levando lideres ganânciosos a manipular povos inteiros com objectivos pessoais, culminando na morte de milhões de seres humanos, à extinção de espécies de seres vivos inteiras, e à destruição em geral do mundo em que vivemos.

Com a globalização dos meios informativos vêm novas lutas, novas preocupações e angústias, que antes não chegavam até nós por falta desses mesmo meios. Somos então um povo que chora em frente à televisão durante meses a fio por causa do rapto de uma criança estrangeira ( porque os media assim o quiseram ), e ignora completamente quando o mesmo acontece a alguém do mesmo país. Não digo que não devessemos lamentar o primeiro acontecimento, simplesmente digo que esta dualidade de critérios imposta pelos meios de comunicação social me faz começar a sentir alguma repugna pelo meu próprio povo e a forma como é fácilmente manipulável. É de presumir então que alguma inteligência se tenha perdido em todos aqueles actos altruístas que a história conta. Mas na verdade isto não passa de pequenos detalhes, e os mesmos meios de comunicação social que manipulam a vontade pública a seu belo prazer com objectivos próprios são os mesmo que ao fazê-lo acabam por regularmente ajudar quem mais precisa, seja com angariações de fundos para causas quase perdidas, seja a visibilidade que dá à voz do povo quando esta se ergue contra os poderes instituídos, lutando pelos seus direitos e pelos dos outros, juntando-se em uníssono como outrora muitos idealizaram. De novo já me começa a parecer o povo que falava inicialmente, e laivos de esperança ressurgem na minha cabeça. Mas há um problema grave nisto tudo... O ser humano é impulsivo, e tende a cegar quando possui objectivos concretos, levando-o a atropelar tudo e todos, sem pensar no que diz, e muitas vezes no que acaba por fazer.

Não me admira portanto o mail que recebi hoje na caixa de correio electrónico e que me chamou à atenção. Apesar de ser aparentemente apenas o milésimo mail anti Sócrates de conteudo regularmente manipulativo e geralmente ofensivo decidi lê-lo na íntegra, apenas para encontrar um poço colossal de egoísmo, falta de sensatez ou pura e simples idiotice dum povo que se diz evoluído, baseado numa notícia que já tem na verdade quase um ano de existência. Isto da informação global é afinal de contas um bocado lento de vez enquando. Mas foquemo-nos no que dizia este texto, escrito provavelmente à muitos meses atrás por alguém tão português como qualquer um de nós, e portanto, presume-se, alguém altruísta e com bom senso.. certo?

...Errado.

Transcrevo então o texto em questão:

Ganda SÓCRATES. És o MAIOR! ·

O novo estádio da cidade de Al-Kahder, nos arredores de Belém, na
Cisjordânia, cuja construção foi financiada por Portugal, através do

Instituto Português de Cooperação para o Desenvolvimento, vai ser inaugurado na próxima segunda-feira.O recinto custou dois milhões de dólares, tem capacidade para seis mil espectadores, é certificado pela FIFA e dispõe de piso sintético e iluminação.
A cerimónia de inauguração abrirá com uma marcha de escuteiros locais,conduzindo as bandeiras de Portugal e da Palestina, e a execução dos respectivos hinos nacionais.
Já fechámos urgências, maternidades, centros de saúde e escolas primárias,
mas.................................. oferecemos um estádio à Palestina.
Devíamos fechar o Hospital de Santa Maria e oferecer um pavilhão multiusos
ao Afeganistão.
A seguir fechávamos a cidade universitária e oferecíamos um complexo olímpico (também com estádio) à Somália e por último fechávamos a Assembleia da República e oferecíamos os nossos políticos aos crocodilos do Nilo.

DIVULGUEM PARA SABEREM O QUE FAZ O GOVERNO COM OS NOSSOS IMPOSTOS

Este texto refere-se a uma notícia divulgada pela agência lusa em meados de Abril de 2007, a qual podem consultar integralmente aqui.

Para começar, penso que o Instituto Português de Cooperação para o Desenvolvimento (IPAD) é um institudo que trabalha com fundos do estado e comunitários, mas independentes e portanto a ser usados exclusivamente neste tipo de acções humanitárias e que tem um objectivo nobre que é o de apoiar e ajudar os povos subdesenvolvidos, o que, e esquecendo objectivos altruístas, acaba por ser benéfico mais cedo ou mais tarde para o povo português quer seja para que os nativos desses países não tenham de imigrar para Portugal para “roubar” os nossos empregos (lá se foi a nossa hospitalidade e capacidade de acolhimento e ajuda), quer seja para , ( como foi neste caso) ajudar a desenvolver e a criar condições para que aquela que é a zona do planeta mais importante e influente a nível da economia e paz mundial possa ter mais um foco de alegria e esperança, algo que aquele pobre povo já não conhece há demasiado tempo. O simples facto de no jogo de inauguração se juntarem equipas e jogadores de ambos os credos dominantes naquele pequeno pedaço de mundo é por si só de extrema importância para tentar trazer alguma paz para aquela terra, porque quer queiram quer não, da paz daquele sítio, depende a paz e a economia de todo o mundo “civilizado”.

Para mim, a seguinte frase transcrita da notícia fala por si só:

“Khalil Shahwan, director do Departamento de Juventude e Desportos de Belém, agradeceu, em entrevista publicada hoje pelo diário El-Quds, à "nação amiga portuguesa" pela sua importante contribuição, esperando que esta sirva de exemplo a outros países, para que ajudem o povo palestiniano a realizar as suas necessidades.”


Infelizmente há quem prefira seguir o caminho cego do egoísmo e de “só pensar com a sua barriga”, ignorando completamente a importância de um gesto que afinal nem foi assim tão caro, 2 milhões de euros, para ajudar a criar condições para que um povo martirizado tenha algumas razões de sorrir, e consequentemente dar uma pequena ajuda à paz mundial é uma quantia completamente irrisória.

Trata-se afinal de um pequeno gesto com objectivos nobres que me fazem de novo ter um sincero orgulho em ser português, mas que muitos, como pude verificar na blogoesfera aproveitaram como cavalo de batalha para uma luta que até pode ser nobre, mas que com capítulos destes se torna ridícula e vergonhosa. Nem vou aprofundar o facto de o IPAD actuar independentemente e que provavelmente os fundos para a construção deste estádio foram disponibilizados antes do governo de José Sócrates ter entrado em funções, inviabilizando notóriamente aquele deprimente discurso. Talvez a pessoa que escreveu esse texto queira também acabar com as ajudas aos países sub desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, bem como aqueles que sofreram catástrofes mais ou menos naturais. Talvez queira desonrar um povo honesto e trabalhador, humilde, sensato e acolhedor, e obliterar completamente o que faz de nós únicos em todo o mundo.